31 August, 2006

Valeu Equador!

Depois, de percorrer um trecho de trem, peguei uma rota alternativa no meio dos Andes. Parecia uma ciclovia andina. Dias de muita magia sozinho no meio dos Andes. Desci até a costa equatoriana e matei saudades do relevo plano.


ciclovia andina






 Hoje, já me encontro no Peru, na cidade de Tumbes. Começo um longo cominho pela desértica costa peruana até Lima. Bem, agora no meu 10° país, não tenho palavras para descrever a emoção. Depois mando fotos e tento em palavras descrever o que foi pedalar por uma antiga rota inca.




Obrigado Equador...
tirando a roda da minha parceira, o resto foi maravilhoso

Abraços,
Romulo Magalhães

ps: os últimos 2 postos foram atualizados com fotos!!

24 August, 2006

Equador (atualizado!!)

Dias difíceis...mas superados...
Bem, depois de chegar a Pasto, Colômbia, em um dia cheguei à fronteira com o Equador. A mudança de ares foi grande, principalmente no que diz respeito à segurança. Chegar ao Equador me deixou mais tranqüilo para viajar. Apesar de ter ficado apaixonado pela Colômbia, devo aceitar o fato de que aquele não é um dos lugares mais seguros para pedalar.
A primeira cidade foi Tulcan, uma pequena cidade que me permitiu degustar o
que enfrentaria nos próximos dias. Pude perceber o quanto educado é este povo. Parecia que já me conheciam, onde chegava, seja no mercado ou numa pensão, era muito bem tratado. Sem precisar dizer que sou brasileiro, fórmula que funcionou muito bem em outros países, mas que aqui não fez muito efeito. A educação e a gentileza parecem ser uma marca natural deste povo.
Em Tulcan, também comecei a sentir o que seria pedalar nos Andes. Duro demais, mas bem recompensado pelas paisagens. Fui pedalando pelos Andes e passando por pequenos povoados e cidades como San Gabriel, Ibarra, Otavalo, Cayame até chegar em Quito. Foi num destes dias de pedalada que cruzei a linha do Equador. Uma vitória particular, me senti o mais feliz dos humanos. Trata-se de uma linha imaginária, mas nas minhas circunstâncias eu pude sentir a travessia. Eu gritava como louco no caminho, coloquei o MP3 no volume máximo e parecia flutuar ao ritmo de ¨I feel good¨, cantado por James Brown.
  
                                                                         Latitude 0°





Mas, o dia não acabava ali. Neste mesmo dia cheguei a Quito. Cheguei, mas não recordei o aviso do meu amigo espanhol. Ainda no México ele disse: ¨Cuidado, com Quito, o trânsito é louco¨. Poucos minutos em Quito e veio a prova. Andava como de costume no acostamento, respeitando a sinalização, quando um carro decidiu entrar à direita e não percebeu que eu estava lá. Tentei sair, mas ele pegou a minha roda dianteira e o guidão. A roda virou quase um 8, e o guidão riscou toda a porta do carro. Eu quase nada sofri. Só um pouco de dor no ombro, no cotovelo e canela. Mas muito pouco. O problema foi o susto, não saia uma palavra da minha boca. O portunhol ficou entalado. Diante da situação, o motorista se foi e o povo da rua, a meu favor, tentou me acudir. Voltei a mim e segui cabisbaixo, empurrando a parceira e pensando no que o espanhol havia dito.


Cheguei a um albergue na parte moderna de Quito. Vale dizer que a parte moderna de Quito tem uma concentração recorde de Albergue. Sem mentira, acho que no mesmo bairro tem mais de 30. Restou buscar o mais barato e lá me instalar. Já era tarde e não teria como consertar a parceira. Sendo sexta-feira, fiquei o fim de semana na cidade. O sábado foi de luto, ainda mais porque não achava uma roda nova. Rodei Quito inteiro e não encontrava os benditos aros com tamanhos especiais. Voltei para o albergue e percebi que deveria esperar até segunda.
Domingo, acordei melhor, nada como um papo com a família. Sai para conhecer a parte histórica de Quito, considerada patrimônio Cultural da Humanidade. E realmente vale o título. Daí, depois de um domingo cultural o jeito foi esperar a segunda.


Meus pedidos na Catedral foram atendidos, na segunda de manhã, seguindo para uma loja de bicicletas disposto a adaptar uma roda nova, descobri uma outra, pequena e bem escondida. Entrei, contei a minha historia e perguntei sobre uma roda nova. Um jovem, bem disposto disse não ter, mas que tentaria dar um jeito naquela. Eu nem acreditei, a roda foi dada como perdida por mais de 8 lojas.
Parecia que tinha um parente meu sendo operado, pois eu aguardava apreensivo no balcão enquanto escutava o barulho das marteladas. Depois de um tempo, sai o jovem, sorridente e dizendo que fez o possível. O possível foi um espetáculo, a roda voltou a girar, não como antes, mas voltou. E como consolo me disse que eu andaria bem por mais uns 1.000 Km, dai teria que trocar. Com 1.000 Km chego em alguma cidade grande do Peru, onde buscarei uma alternativa.
Saí mais do que agradecido e segui enfrentando os Andes.

                           
                                                        Amigos de estrada nos Andes
  Rumo ao Vulcão Tungurahua. Até a cidade de Machachi fui bem, mas já perto de Ambato comecei a sentir o poder do vulcão. Uma semana depois e ainda estavam no ar as cinzas. Meus olhos ficaram rapidamente irritados. Porém, segui em direção à Ambato. Neste caminho, tive mais um dos encontros mágicos. Sentado a beira da estrada, estava um senhor ciclista com roupas coloridas e máscara de proteção contra as cinzas. Como me chamou a atenção, retornei e fui puxar conversa. E que conversa... O senhor se chama Hugo e mora em Ambato, estava descansando da sua volta diária de bicicleta. Decidi ficar ali, para seguir com ele.
Ex-treinador de ciclismo, encheu-me de perguntas e passou a dar algumas dicas. O Sr. Hugo tinha um filho ex-campeão da Volta do Equador de ciclismo. Mas contava a historia com certa tristeza, pois o filho tentou seguir carreira profissional nos E.U.A. e não deu certo. Nunca mais voltou. Sem seu filho para treinar, acho que naquele dia, sobrou para mim ser o atleta. Em minutos, se transformou em meu treinador e tamanha foi a intimidade que a até bronca levei.
Segui com ele até sua casa e depois do ¨Dia de Treino¨, fui recebido com um belo almoço. Lá conheci toda família.Na despedida, fui presenteado com uma pedra vulcânica do Tungurahua. Eu que tento sempre reduzir peso, viajo agora com uma pedra vulcânica, mas cheio de orgulho.
De Ambato vim até Riobamba, onde as cinzas se fazem mais presentes. Daqui de Riobamba partirei de trem até Aluasi O ar aqui esta péssimo para qualquer atividade. Escolhi este trem, pois segundo indicam é uma das viagens mais bonitas do Equador. Veremos... De Aluasi pretendo me despedir dos Andes e voltar a pedalar rumo à costa e daí para o Peru.


Até a costa equatoriana...
Ah... juro que não roubaram a minha câmera, o problema que não encontro uma boa conexão para mandar as fotos. Ainda estou devendo esta.

Abraços,
Romulo Magalhães

15 August, 2006

Panamá / Colômbia (atualizado!!)

"Doutor, eu não me engano meu coração é Colombiano!!!"

E pensar que eu iria pular a Colômbia. Mas, eu venho aprendendo algo importante nesta viagem. Venho aprendendo a seguir a vontade do coração. Tem algo maior que manipula nosso coração, só que precisamos estar em paz para escutá-lo. (Sem querer dar uma de Paulo Coelho)
O que eu vivi desde que cheguei na Cidade do Panamá até agora aqui em Popayan foi difícil de acreditar, e muito mais difícil de contar.Nem dá para contar tudo, senão vou ficar com fama de mentiroso. Mas vamos por parte.
Como contei, fiquei dias esperando um barco no Panamá. Fiz de tudo, até oferecer trabalho no porto, eu ofereci, para pegar uma carona. Mas depois de muita paciência, apareceu um barco. O inesquecível: Doña Flor. O barco estava marcado para sair sábado à noite e teria como destino Jaque, a fronteira do Panamá com a Colômbia. Pois bem, eu e meu amigo Stefan, um músico suíço, fomos juntos pegar o barco.
Ficamos horas esperando até que permitiram nossa entrada no barco, digo barco, pois aquela lata pelo menos flutuava, de resto não se parecia com um barco. Nos avisaram que a viagem demoraria 14 horas e que na manha seguinte estaríamos na fronteira. Bem, viajávamos em companhia de colombianas que buscam mercadorias no Panamá para vender em pequenos povoados na Colômbia, alem de três índias grávidas e seus filhos. Completava o grupo um professor que trabalhava com comunidades indígenas.
O barco partiu, navegou por 30 minutos e parou. Nosso super "capitão" nos avisou que o motor apagou e que teríamos que esperar até a manha seguinte para consertar. Aí vem o inacreditável, pois ficamos 48 horas esperando o mecânico. Juro, 48 horas esperando chegar um mecânico para consertar o motor. Descobri muitas coisas interessantes nestas 48 horas. A primeira que o barco não tinha rádio e a segunda que não poderíamos voltar à costa, pois o barco seria multado mais uma vez. Logo, ficamos lá a deriva por dois dias. O suíço, coitado, não entendia nada, eu tentava acalmá-lo, mais ele ficou louco. Relaxei e passei a fazer contado com meus companheiros de viagem. Isso fez as horas passarem mais rápido. Completando o segundo dia, chegou o mecânico, consertou o barco e levou o suíço de volta para o Panamá, ele estava transtornado.
Na madrugada da terça feira partimos em direção a Jaque. Ah... e a comida, este é um capitulo a parte. De início me recusei a comer. O cozinheiro não inspirava confiança, alem de ser chamado de Satanás e ter as unhas mais sujas que já vi. Pois, alem de cozinheiro do barco, era auxiliar do maquinista. Mas, depois do primeiro dia, já estava até repetindo o prato e virei amigo do Satanás. Peixe, frango, arroz e banana frita, este era o cardápio. Já estava em casa. As fotos destes dias que são poucas, pois com medo de roubo, tirava fotos escondidas. Não podia aparentar ter grana naquele barco.Depois desta peregrinação, chegamos a Jaque. Agora, já não tinha mais meu amigo suíço, mas amigos colombianos que me ajudaram muito. De Jaque, no mesmo dia pegamos uma lancha rápida para Jurado. Lá, um povoado muito pequeno, fui recebido por um casal amigo das pessoas que estavam no barco. O casal era a Raquel e o Barra. Ele era capitão de uma lancha que transportava de tudo para Bahia Solano.


                                                             
                                                               Eu e meu amigo Barra

 Fui direcionado para esta casa, pois falaram que a Raquel falava muito bem o inglês, já que havia morado nos EUA. Nesta casa, passei três dias até seguir viagem para Bahia Solano. A Raquel realmente havia morado 7 anos em Houston, mas foi deportada em 2003. Uma pessoa incrível. Conversamos horas e horas. Das coisas mais interessantes que me disse, foi que seu sonho era ter um filho e nunca conseguiu. Fez todo tipo de tratamento nos Eua e nada. Daí, quando voltou para Colômbia viajou até Jaque, pois havia um chá indígena que curava as mulheres. Foi então que conheceu Barra, tomou o chá e teve seu filho. Por gratidão a este homem e a terra não sai mais dali. Eu achei a história linda.
E meus dias em Jurado foram incríveis. Eu andava no povoado com o titulo de viajante amigo do Barra. Estava novamente em casa. Saibam que era o único estrangeiro no lugar e o único com pele clara. Todos eram afros, descendentes ou indígenas. Uma lição de vida, pois não me trataram como um filho. A diferença era apenas visual, fui tratado como um igual. Uma menina de nome Jéssica se aproximou um dia me tocou e disse: "Você tem a pele vermelha... divertido".
Três dias depois segui com Barra e outros na lancha até Bahia Solano. Lá estava em festa, três dias, uma espécie de carnaval. Me alojei desta vez num pequeno hotel, para esperar por fim um barco para Buenaventura. Enquanto esperava o barco fui conhecendo muitas pessoas, entre elas um estudante costarriquenho que estuda nos EUA e fazia um trabalho para sua faculdade de Agronomia sobre a diversidade daquela área, distrito de Chocó. Depois conheci Alejandro e Angel. O primeiro um para-medico e o segundo responsável por um trabalho social num povoado perto do lugar. Foi com eles que passei meus dias até chegar o barco. Aprendi muita coisa sobre o lugar. Desde pesca, índios, guerrilha e diversidade da fauna e flora.

Uma coisa interessante destes dias foi acompanhar o Campeonato de Futebol Juvenil. Entendi porque a Colômbia fabrica tantos jogadores habilidosos, mas não vão a Copa. Todos querem jogar no ataque e preferem fazer malabarismos com a bola do que chutar para gol. Ficava louco. No fim Juradó foi campeão, para minha alegria e do meu amigo Barra. Chegou finalmente o dia de pegar barco para Buenaventura. Antes de partir, recebi um serviço. Alejandro pediu para eu entregar uma carta para seu irmão e um presente para sua namorada que viviam em Cali. Aceitei o pequeno desafio e parti.
30 horas mais de barco, desta vez com radio, GPS e até camarote para dormir. No total passei 105 horas dentro de barco e lanchas até chegar em Buenaventura. Deste porto, parti para Cali. Foram dois dias de muita subida. Sai do nível do mar e fui até mais de 2.000 metros de altitude. Duro de pedalar, mais muito lindo. A presença de militares pelas rodovias era de assustar. Fui revisado algumas vezes. Cheguei à cidade de Cali depois de uma descida de quase 20 km. Um sonho de descida. A parceira agradeceu.
Em Cali, comecei a buscar o endereço do trabalho do Jorge, irmão do Alejandro. Demorei umas 3 horas até que achei. O cara parecia não acreditar. Tive que mostrar fotos, contar toda a historia, até cair a ficha. Fui convidado para dormir na sua casa. Mas como ele estava trabalhando, um amigo seu, Juan, me buscou e me acompanhou. Neste mesmo dia, fui convidado para sair, para conhecer a noite de Cali. Olha, Cali está na Colômbia, mas deu um banho de segurança no Rio de Janeiro. Eu e os amigos de Juan caminhamos pela noite pelas ruas e parques da cidade. Muita gente pelas ruas, namorados pelas praças, isso quase uma hora da manha. Foi uma noite muito agradável, não só pela companhia, mas também pelo clima da cidade. Adorei Cali.
De Cali parti para Popayan. Uma rodovia muito bonita, mas cheio de subidas. Pedalei pela Cordilheira Colombiana dois dias até chegar à cidade.
Ontem, faltando uns 20 km para chegar, não agüentava mais de cansaço. Parei para descansar debaixo de uma árvore e uma caminhonete passou por mim e voltou. Era um casal muito simpático que queria saber de onde era, e para onde ia. Jorge e Fernanda me fizeram um monte de perguntas e por fim já intimo pedi uma carona até Popayan, não agüentava mais pedalar. Aceitaram numa boa e ainda me levaram para conhecer um povoado chamado Silvia, cidade conhecida como a Suíça colombiana, que fugia da minha rota. Fui convidado para almoçar junto com eles. E enquanto comia uma bela truta frita conversávamos sobre a Colômbia. Confessei a eles que meu coração agora também era Colombiano e que seu país ganhou um novo defensor.

                                                     
                                                           Fernanda experimentando minha bike



                                                                      Jorge e Fernanda

Deixaram-me num hotel de um conhecido deles onde recebi um bom desconto. Conheci um pouco da bela e colonial Popayan. A cidade tem toda uma arquitetura colonial e possui uma forte importância política para Colômbia. Foi daqui que saíram os homens que lutaram pela independência Colombiana. Lembrei muito de Ouro Preto, Minas Gerais.


Bem, agora estou indo rumo à fronteira. O caminho fica mais duro daqui para frente e muitos me recomendaram fazer esta viagem até Ipiales, fronteira com Equador, de ônibus, pois além da dificuldade do terreno, esta área está com forte presença da guerrilha. Como não quero abusar da sorte e estou muito cansado, vou de ônibus nesta parte final.
Bem, que Deus ilumine a Colômbia e meus novos amigos: Barra, Raquel, Angel, Alejandro, Jorge, Fernanda e todos outros que fizeram da minha passagem na Colômbia um tempo de aprendizado e emoção. Até o Equador.

Depois eu mando as fotos....
Abraços,
Rômulo Magalhães

07 August, 2006

Viva a Colômbia!

Olha, escrevo só para avisar para os amigos que hoje completo uma semana na Colômbia. Venho seguindo a costa colombiana de barco, a única maneira de fazer a viagem. As distâncias são enormes e os barcos demoram para chegar. Viajo com barcos que abastecem as comunidades do litoral. A cada cidade que passo conheço pessoas e lugares mágicos. Nestes pequenos povoados, estou sendo recebido por casas de família. Tenho vivido experiências únicas aqui na Colômbia. Já passei por Jurado, Jaque e agora estou em Baia de Asolano. Para se ter uma idéia, este povoado que estou é o lugar de maior diversidade de pássaros do planeta. Um paraíso, não fosse a assombrosa presença dos militares que guardam a região das guerrilhas.




Bem, agora espero, finalmente, um barco para Buenaventura. Preciso voltar a pedalar, já são 12 dias esperando e andando de barco, daqui a pouco vou mudar a página para "Romulo de Barco". Vou precisar de tempo para contar tudo que estou vivendo neste pais, onde a violência é bem visível, mas onde também o carinho e a solidariedade se fazem muito presentes.
Uma semana de Colômbia e poderia passar dias contando o que estou vivendo. Juro que escrevo depois e mando fotos.



Até Buenaventura ou Cali!